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Um drink para Sydnee

28 Apr 2021Siegrfried
Data Solar 3307-04-28 08:40

Ray Orbital era uma estação que poderia facilmente se enquadrar nos modelos de cidade humana do segundo milênio. Tinha suas partes boas e bonitas, destinadas aos visitantes, comerciantes e militares que ali faziam parada, assim como tinha seus guetos, cantos obscuros e passagens que só o pessoal da operação e da limpeza conheciam. Era nesses cantos obscuros de passagens estreitas e checagens de acesso que só quem tinha "os macetes" da estação conseguia entrar, que Sydnee ficava na maior parte do tempo.

Outrora líder de um subgrupo de pesquisa da importante Aegis Researchs, Sydnee Mathews fora expulsa da corporação por conta de suas pesquisas de ética duvidosa. Oficialmente, ela estava desligada da Aegis, mas todos sabiam que extra-oficialmente, seus antigos patrões continuavam lhe financiando e consultando seus resultados de tempos em tempos. Sydnee operava por sua conta e risco no ramo de aquisição, indexação e desencritptação de dados e artefatos alienígenas. Era ela uma das muitas pessoas que faziam com que a Aegis apresentasse resultados fabulosos sem que os conselhos de ética dos sistemas onde a corporação atuava, pegassem no pé dos figurões.

Passei por alguns mecânicos e agentes de monitoramento, bem como pessoas que cuidavam da limpeza e da manutenção básica da estação, todos eles muito atentos ao meu jeito de andar, ao meu traje e com scanners prontamente posicionados para proteger o submundo de Ray Orbital, a jóia de Diaguandri. Depois de uns 10 minutos de caminhada para longe das docas, cheguei ao Torto Biônico, o bar irregular que era mantido por esse "pequeno sindicato do crime".

— Olá! — Eu disse ao barman.

— Comandante. É uma honra recebê-lo aqui. — Retorquiu com uma acento debochado na "honra", uma vez que ambos sabíamos que não havia muita honra nesses lugares.

— Eu gostaria de uma bebida. Um dos seus destilados mais fortes. Um para mim e outro para minha amiga Syd, ela já deve estar para chegar.

Esse era o código para que chamassem Sydnee em seu laboratório, um dos destilados mais fortes, um para si e outro para ela. Era um teste curioso esse que Sydnee fazia. Ela enrolava durante um período de tempo aleatório em seu laboratório. Se fosse sua primeira vez, ela não se importava se você começasse a beber sozinho, mas de uma segunda vez, ela já o teria advertido da descortesia e então observaria de longe se quem a chamava era conhecido e se já havia bebido seu drink. Em caso de ver um copo vazio, não aparecia. Era desconfiada e esse era um sinal que pedia quando algo poderia estar errado.

Não demorou muito e ela apareceu.

— Antony, você por aqui. Quanto tempo, meu caro.

— Oi, Syd. — Respondi — Trouxe alguns bibelôs pra você.

O sorriso que se estampou em seu roto era agora tão brilhante quanto a própria estrela-cão. Era até animador ver a felicidade assim, tão pura no rosto de uma obcecada.

— O que você trouxe? E eu presumo que você quer algo em troca, estou certa?

— Ah, claro... Nessa Galáxia de meu Deus, quem não quer alguma coisa depois de QUASE MORRER por conta dessas anotações malucas que seus colegas deixam perdidas por aí? — Gesticulei enquanto falava, simulando indignação — Visitei umas tais estruturas Guardian e trouxe esses materiais aqui. — Disse mostrando a ela uma listagem em meu pad de dados pessoal.

Seu rosto se flexionou em outra caratonha engraçada, ela sorria e achava graça em meu pequeno acesso de raiva. Entornou o drink de uma só, o que era claramente um convite para que eu fizesse o mesmo. Voltou seu olhar para o copo, o que significava que ela estava pensando em como retirar a carga da minha nave e como colocar lá dentro o que eu queria.

— Amanhã, Sieg, vai haver uma inspeção do sistema de energia das docas e a vigilância vai ficar relaxada. Vou levar o Big Cleber e o Robinho pra ajudar, habilite meu acesso novamente na Endurance e vá para um passeio pela zona nobre da estação. Esqueça por um dia ou dois a sua nave e eu prometo que quando voltar, ela vai pular mais do que as pulgas amestradas dos antigos titereiros da Terra.

— O que diabos é um titereiro? E o que você vai me dar?

— Bem, recomendo que seu passeio seja dedicado a um terminal de dados, vá ler um pouco e pesquise sobre, eu sei que você gosta de leituras. Sobre seu pagamento, vou instalar um sistema Guardian derivado dessas peças que você encontrou. Os dados que você trouxe podem render mais coisas, mas isso leva tempo então eu vou garantir a injeção Guardian no seu Motor de Distorção e depois que acabar, me debruço sobre o resto das suas quinquilharias. Obviamente vou compartilhar os resultados com meus amigos e espero que não se oponha.

— De maneira alguma.

— Então é isso. Me pague outro drink, hoje terei bastante trabalho para preparar a implantação e preciso ficar acordada.

— Você continua uma aproveitadorazinha! — Respondi sorridente.

— E você continua precisando dos meus serviços.
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