Cap 1 - DE VOLTA EM CASA
14 May 2021Kenjiro Tanaka
3302Aliança
Sistema Eranin
Há alguns meses ele não voltava para casa. A visão de Azeban, do espaço, sempre o deixou admirado. É o seu planeta natal, um earth like como dizem. O primeiro de seis planetas que orbitam a única estrela do sistema Eranin.
Ele reduz a aceleração da nave e ajusta o ângulo de entrada na atmosfera. Velocidade demais ao entrar em uma atmosfera semelhante à da Terra não é saudável para a nave, nem para o piloto. A nave chacoalha, vibra e o casco “resmunga” ante a pressão e resistência do ar. Mas ele está tranquilo, está acostumado. Sabe que executando a entrada corretamente, a nave aguenta. Alguns minutos depois ele vê a estação ao longe, apenas um ponto no solo, a alguns quilômetros da costa.
‘Bom dia, controle de voo de Azeban. Aqui é o comandante Kenjiro Tanaka a bordo da Smokescreen, identificação Kilo Echo November-02. Peço permissão para pousar.’
‘Bom dia Cobra Mk3 KEN-02. Qual o motivo de sua visita a Azeban?’
‘Sou natural daqui, controle. Estou visitando a família. Mas também trago uma carga de uranita. Ouvi dizer que estão precisando por aqui’
‘Com certeza, comandante, essa carga é bem vinda. Sua aproximação é boa e você está liberado para o pouso. Mantenha seu curso e dirija-se à plataforma 08’
Alguns minutos depois, enquanto ajusta o posicionamento da nave para o pouso, ele olha as outras plataformas da estação. Exceto por umas poucas naves de passageiros, a estação está vazia.
‘É… bem diferente dos outros sistemas mais movimentados.’ Ele ativa a chave do trem de pouso e reajusta os PIPs, deixando a energia da nave equilibrada nos três capacitores. O ranger do trem de pouso baixando pode ser ouvido enquanto os propulsores inferiores rugem e calmamente baixam a nave na plataforma. As travas automáticas da plataforma são ativadas e a nave está segura no solo.
Kenjiro abre o painel de serviços da estação, acessa o mercado local e informa que tem uma carga de 48 toneladas de uranita para vender. Após conferir a transferência dos créditos para sua conta, informa o número da sua plataforma à equipe de solo e solicita um reabastecimento total. Vai até seu quarto, pega uma mochila e dirige-se à porta traseira. Desce da nave e, enquanto aguarda a nave ser descarregada e reabastecida pelos astromecs, aproveita para esticar as pernas e se ambientar à gravidade de 0,99G.
Alguns minutos depois ele vai até o terminal mais próximo e pega um transporte para a cidade. ‘Quero só ver a cara deles!’ pensa enquanto sorri e olha a bela paisagem passando cada vez mais rápida pela janela.
O sinal eletrônico indica que alguém acionou o botão do interfone. Como ela está ocupada, pede que o marido atenda a porta.
‘Ryuji, agora não posso largar a cozinha. Vê quem está na porta!’
Ele a ouve gritar. Larga as ferramentas sobre a bancada e vai até a porta. A pessoa está meio de costas, como se olhando para trás. Não dá para identificar pela câmera. Mesmo assim ele pressiona o botão. A porta desliza para o lado, com o som característico.
O homem vira para encarar seu velho pai, sorri e faz a reverência oriental, como manda a tradição. Ao ver o filho, ele olha pra trás - ‘Ah! Vem ver quem chegou! É o Senhor Piloto Espacial!’ - ele se vira e responde o cumprimento
Não adianta, mesmo depois de todos esses anos ele não aceita o fato do filho ter saído de casa para ingressar na Academia da Federação de Pilotos.
‘Vai, entra. Tua mãe vai gostar da surpresa.’
Ela vem correndo, já com lágrimas nos olhos - ‘Por que não avisou que vinha? Eu teria preparado algo especial pro almoço’. Essa é sua mãe, sempre sentimental.
‘Nah, não precisa ser algo especial. Qualquer comida que minha véia faz é sempre 300% melhor do que as que como nas viagens ou estações por aí.’
Esta visita será mais curta do que eles gostariam. Ele ficará apenas um dia pra dar uma descansada, atualizá-los das novidades sobre a filha e pra mostrar a ambos que está bem e seguro na profissão que escolheu.
Claro que não vai contar pra eles das vezes que se aventurou a aceitar algumas missões de caçador de recompensas, ou quando piratas tentaram roubar sua carga e se deram mal. Seria emoção demais para a mãe, e certeza que seu pai se encheria de razão para o “atormentar” por ter escolhido ser piloto ao invés de seguir a tradição da família Tanaka nas áreas de tecnologia.
‘...e como as coisas deram uma bela melhorada, já faz um tempo que comprei uma Cobra Mk3. Agora meus ganhos estão dando uma acelerada.’
‘Ah pai, estou esboçando um novo projeto que acho que tu vais gostar. A ideia é criar uma IA para ajudar no gerenciamento da nave, comunicação, etc.’
‘Ué, mas as naves já tem um sistema de IA há décadas! Que vantagem isso vai ter?’
‘Ah muleque, aí que está! A minha IA vai ser bem melhor do que esses sistemas que são padrão em todas as naves. Tu vais ver. Vou dar o nome de Vector Sigma.’
‘Pronto! Aposto que é o nome de algum personagem daquelas porcarias de desenho animado do século XX que tu adorava assistir.’
No dia seguinte ele se despede e, como de costume, a mãe querida enche os olhos de lágrimas.
‘Deixa disso mãe. Daqui uns meses vamos nos ver de novo. Lembra que está chegando a data da comemoração de 20 anos da minha formatura na Academia de Pilotos?’
‘Eu não vou’ - diz o velho Samurai - ‘Meu lugar é aqui, em terra firme.’
‘E vai perder a chance de ver a netinha pessoalmente lá na Academia?’
Abana pra eles e entra no táxi que o levará até a estação, onde pegará o trem de volta ao hangar. Ele decidiu visitar Belobog. Ouviu falar de missões que pagam bem nesse sistema.