Cap 2 - A DICA DE OURO
14 May 2021Kenjiro Tanaka
3302Aliança
Sistema Belobog
Estação al-Haytham City
Já faz algumas semanas que Kenjiro está trabalhando no sistema. Já perdeu a conta de quantas entregas de dados fez nos sistemas vizinhos; nem lembra quantos contratos de busca de recursos já completou.
Hoje é feriado no sistema, mas ele nem lembra o motivo. Aproveitou o momento de calmaria na estação e foi para uma das áreas sociais.
O movimento por ali está mais intenso que em dias normais. Esta é a maior estação do sistema, então é o centro das atenções dos pilotos de viagens de longas distâncias. Como as empresas estão todas fechadas, o fluxo nas áreas sociais se intensifica. Poucas naves saem ou chegam na estação. Os bares, restaurantes, boates e empreendimentos de reputação duvidosa acabam virando o foco dos pilotos.
Mas ele está ali apenas porque gosta de ver o movimento, e porque está cansado de ficar trabalhando no novo projeto dentro de sua nave. ‘É bom trocar um pouco a paisagem.’ - fala para si mesmo.
Volta a focar a tela do datapad. Está tentando resolver bugs do código inicial da sua IA. Por algum motivo desconhecido, ou “magia negra”, como ele costuma dizer, sua IA ainda não consegue se comunicar com os sistemas da nave.
Apesar de ser um homem muito pacato, Ryuji Tanaka, seu pai, treinou-o muito bem nas artes de combate corpo-a-corpo desde pequeno, conforme as tradições da família. Tradição que datava de vários séculos, nascida na Terra, o berço da humanidade. ‘Sempre que estiver em um ambiente desconhecido, como um restaurante por exemplo, tente ficar de frente para a entrada principal. Assim pode evitar ser pego desprevenido' - era um dos ensinamentos práticos que havia passado ao filho. E assim a escolha de onde sentar em um estabelecimento era praticamente automática. De costas para a parede, de frente para entrada.
O barulho de mesas sendo derrubadas tira sua atenção da tela. Alguns metros à sua frente, um grupo de homens vem entrando no bar, já embriagados, esbarrando em mesas e pessoas, falando alto. Eles escolhem uma mesa quase ao lado da sua. Pedem bebidas e alguns petiscos, e seguem falando alto.
‘Cara, é sério, tenho certeza que ouvi uns pilotos conversando sobre contratos que paga muito, muito mesmo.’ - diz um careca com um traje bordô.
‘Sai pra lá!’ - diz um outro de cabelos grisalhos - ‘Nenhuma empresa ou facção de Belobog paga tanto assim.’
‘Cara, deixa de ser burro...ou surdo. Eu não disse que é aqui, nem na vizinhança’.
Um outro homem, vestindo um macacão de mecânico, dá um tapa na mesa - ‘Mas e aí, temo falando de quanto?’
‘Cara, eu ouvi falá em contratos que começa na casa dos 200k!’
O grisalho solta uma forte gargalhada - ‘Vai se ferrá. Isso não existe aqui.’ - fala quase caindo de tão bêbado.
‘Cara, que velho burro! Eles não falarum nesta região!’ - ele olha para os lados e baixa o tom da voz - ‘Ouvi falá que é na região de Quince, ou algo assim.’
Rapidamente Kenjiro abre o mapa da galáxia e pesquisa o nome do sistema - ‘Cacete! Mais de 450al daqui’ - ele pensa.
Mais alguns minutos de pesquisa e ele descobre o que poderia ser a causa de contratos tão promissores: conflitos entre facções. Pelos relatos nas notícias da Galnet e pelo que o fluxo de naves militares na região indicam, diversas facções estão entrando em conflito, disputando importantes posições na economia de seus sistemas e, em alguns poucos casos, até mesmo o controle deles.
‘É, acho que a folga acabou’ - ele fala baixinho enquanto guarda o datapad na mochila. Paga pelo suco que tomou, aproximando o cartão ao sensor da mesa.
No caminho para o hangar, repassa mentalmente os nomes de alguns sistemas que viu na rota que simulou em seu computador. Ao invés de ir direto até Quince, acha melhor fazer uma viagem mais lenta, mas que vai lhe trazer mais dividendos.