Cap 4 - EU SOU A CURA
14 May 2021Kenjiro Tanaka
3303Sistema Quince
Estrelas e nebulosas passam velozmente pela nave. Apesar de estar habituado com as viagens interestelares, este último salto da viagem de mais de 450al parece ser o mais longo, o mais demorado de todos.
Ele ouve o som característico do final do salto. O FSD entrando em resfriamento logo após saírem do túnel interestelar, o rugido da estrela próxima da entrada do sistema.
'Comandante, chegamos ao sistema Quince.' - fala a voz feminina, com um leve toque de sintetização.
'Relatório do sistema.' - Kenjiro ordena à IA enquanto manobra a nave para desviar da estrela que dá nome ao sistema.
'Quince é um sistema com cerca de 10 milhões de habitantes. O sistema não é explorado ou controlado por qualquer poder, apesar de ter uma facção Imperial no comando, a Quince Citizens of Tradition. O sistema está passando por duas guerras civis no momento.'
'É, acho que minha pesquisa estava bem certinha. Foi uma bela dica que aquele bêbado me deu sem querer.'
Ele abre o painel de navegação e trava o destino na estação mais próxima. É lá que ele vai vender a carga que comprou doze sistemas atrás
Após viajar 110sl desde a entrada do sistema, que é uma distância bem curta, a própria Sigma desativa o FSD, tirando a nave do supercruise para o espaço normal. À frente da nave surge uma grande estação do modelo orbis.
'Hmmm, creio que é um bom momento para testar tuas novas funcionalidades, Sigma. Solicite permissão para pousar.'
'Pois não Comandante. Controle de voo de Millerport, aqui é KEN-02 solicitando permissão para aterrissagem.'
' Bom dia KEN-02, qual o seu objetivo em nossa estação?' - responde o controle.
'Agora deixa comigo, Sigma.' - ele ativa o comunicador - 'Ouvi dizer que o sistema está passando por um momento difícil e que uma carga de trajes H.E. seria bem-vinda.'
'E como, comandante! Há várias zonas de conflito no sistema. As facções envolvidas estão equipando os seus pilotos, tropas e, em alguns casos, até os mercenários que contratam.' - há uma pequena pausa - ' Ok, pouso liberado. Dirija-se à plataforma 22.'
'Obrigado controle. Já pode mandar o pessoal de solo e os astromecs me aguardarem na plataforma. São 40 toneladas de produtos.' - ele desliga o comunicador - 'Muito bem, Sigma, pouse a Smokescreen.'
'Como quiser, comandante.' - o indicador do piloto automático surge à sua frente. Kenjiro cruza os braços e assiste sua IA fazer toda a aproximação da estação, manobrar para ajuste de posição e velocidade, baixar o trem de pouso e, finalmente, pousar a nave em segurança.
'Muito bom, Sigma!' - fala enquanto levanta da cadeira.
'Obrigada, comandante Kenjiro. Devo liberar o acesso ao compartimento de carga? A equipe de solo e os astromecs já estão em posição.'
Ele verifica em uma tela o que as câmeras externas da nave capturam - 'Sim, libere o acesso.'
O som da rampa de acesso sendo baixada pode ser ouvido. Ele pega sua mochila e antes de sair do cockpit, ordena que Sigma mantenha aquela parte da nave trancada até que ele volte.
'Do jeito que este sistema está, melhor não dar chance para saqueadores.' - ele pensa enquanto se dirige ao elevador, no fundo do hangar, que leva até a área social daquele setor da estação.
Após sair do elevador, já na área social, mexe em um bolso pequeno da mochila. Dele tira um objeto bem pequeno, pressiona um botão e o coloca no ouvido esquerdo. - 'Sigma, está me ouvindo?'
'Alto e claro, comandante.'
Enquanto caminha em direção à entrada do que parece ser um hotel, pede que Sigma repasse informações adicionais sobre o sistema. A IA lhe fala sobre as principais economias, quais tipos de contratos tem aparecido com mais frequência, quais pagam melhor e quais as facções envolvidas.
Após pagar por um pequeno quarto, que na verdade é um alojamento minúsculo, dirige-se até ele para tomar um banho e trocar de roupa. Só faz isso quando cansa de dormir e fazer refeições durante longos períodos em sua própria nave. É uma prática monótona, cansativa, mas os pilotos costumam fazer isso para economizar alguns créditos.
Depois de se arrumar, coloca o pequeno comunicador no ouvido novamente - 'Bem, vamos lá, Sigma. Filtre os contratos ativos pelos que estão pagando mais.'
'Comandante, os contratos mais caros envolvem combate. São missões de massacre nas zonas de conflito, ou contratos para caçadores de recompensas apreenderem ou matarem desertores.'
'Hmmm, ainda não estou afim de arriscar meu pescoço. Fora as missões de combate, o que está pagando melhor?'
'Há contratos que envolvem o transporte de refugiados e de aquisição de dados.'
'Bem, minha nave não é a mais indicada para levar passageiros... qual facção está oferecendo contratos para aquisição de dados?'
'No momento há duas facções oferecendo esses contratos: Quince Citizens of Tradition e The Foundation.'
Ele sobe até o saguão, passa pelo balcão da recepção e vai até o terminal próximo à porta do restaurante do hotel. Acessa o terminal e abre o quadro de missões. Não encontra qualquer missão do tipo que Sigma informou - ' Que estranho... Sigma, as missões de aquisição de dado ainda estão ativas?'
'Sim, Comandante.'
Ele faz uma cara preocupada, pois sabe o que isso significa. Usa o terminal para identificar a localização dos representantes de ambas as facções e as memoriza. Sai do hotel e caminha pelos corredores em direção ao centro da área social. É lá que os pilotos se concentram. É onde fica a maioria das lojas de equipamentos, naves e trajes. Também podem ser encontrados bares, lanchonetes e prostíbulos.
Facções em busca de mercenários, principalmente para missões ilegais, costumam colocar representantes nesses locais, deslocados de suas sedes oficiais.
Kenjiro vai até um bar que tem cadeiras do lado de fora. Pede uma dose de Suco do Mal Laestiano e senta-se despretensiosamente. Enquanto aguarda sua bebida, observa as pessoas que passam. Mas seu foco são dois homens em locais distantes um do outro, porém de comportamento semelhante. Eles observam com atenção todos que passam por eles. Examinam com cuidado o traje de cada piloto, dão mais atenção aos que não estão bêbados e abordam uns poucos. Bem poucos. Suas localizações batem com aquelas que ele memorizou.
Toma só uma dose do que pediu, paga e levanta-se. Tentando não chamar atenção, vai na direção do primeiro homem, pára ao lado dele e dá um leve toque com o cotovelo direito - 'E aí, o que temos para hoje?'
O homem se assusta, mas logo se recompõe - 'Hã, olá! Está procurando trabalho?'
O sotaque do homem é inconfundível - 'Bem, meu amigo imperial, isso vai depender do que você tem a oferecer.' - Kenjiro fala num tom mais baixo.
O contato imperial passa informações sobre um assentamento na superfície do planeta Kosmala Rewards, que a estação Millerport orbita.
Kenjiro registra o contrato em seu datapad e sai em direção à região das lojas. Pára, olha em volta e encontra o logotipo que procurava: Faulcon Delacy.
Enquanto se dirige para o estabelecimento, coloca a mão em um compartimento secreto da mochila. Dele tira um datapad diferente, menor que aquele que usa normalmente. Entra na loja, olha em volta e fica assistindo os hologramas que surgem no centro dela, com propagandas das naves da marca.
Um vendedor sai de trás do balcão e vem até ele, notando o grande interesse pela apresentação de um modelo em particular - 'Olá! Interessado em uma Sidewinder? Mas me parece que o senhor já é um piloto mais experiente, que merece algo maior e mais moderno.'
Sem olhar para o vendedor, ainda focando o holograma, ele fala com uma expressão saudosa - ' Pois é... Já faz um bom tempo desde que larguei a Sidewinder que a Federação de Pilotos me alugou. Trabalhei em vários lugares, com naves maiores, mas sempre ficou aquela vontade de ter minha própria nave, minha própria Sidewinder.' - então ele olha para o atendente - 'E bem, é o que posso pagar... eu acho.'
'Bem, senhor…'
'Cobretti, Marion Cobretti.' - ele sabe que hoje em dia ninguém conhece personagens do século 20.
'Senhor Cobretti, está com sorte. No início do mês recebemos um carregamento de Sidewinders. Mas devido aos conflitos que tem pipocado no sistema, a procura por essas naves caiu muito. O pessoal anda comprando naves mais robustas, mais resistentes.' - o vendedor sinaliza para que ele o acompanha até o balcão - 'Por conta disso, estamos com uma promoção neste modelo. O preço caiu para 26.000Cr.'
Kenjiro dá um sorriso, um misto de surpresa e satisfação - 'Mas então dei sorte mesmo. Esse valor eu posso pagar!'
O homem acessa o sistema de vendas, seleciona uma nave do modelo solicitado e olha para ele - 'Bem, preciso da sua identificação.'
Kenjiro aproxima o datapad do terminal. O vendedor confirma o nome que ele informou e solicita que ele confirme a transferência dos créditos - 'Muito bem, senhor Cobretti! Sua nave estará à sua espera no hangar 27. Obrigado por escolher a Faulcon Delacy. Volte sempre.'
'Eu que te agradeço por realizar o meu sonho!' - dá um grande sorriso e abana para o vendedor enquanto sai da loja.
Do lado de fora, longe do alcance dos ouvidos do vendedor, da ordem no comunicador - 'Sigma, prepare a transferência de sistema.' - então dirige-se para o hotel.
Cerca de 40 minutos mais tarde, ele sai novamente do hotel vestindo roupas diferentes. Vai novamente até próximo da área social e verifica que o representante da outra facção está no mesmo lugar. Kenjiro vai até o homem, fazendo uma rota que o deixe o mais distante possível do contato da facção imperial.
Desta vez a abordagem é direta, chegando de frente para o representante da facção - 'Olá, tudo bem? O que a The Foundation está precisando?'
O homem o olha da cabeça aos pés, coça a barba no lado esquerdo do rosto - 'Quem te mandou aqui?'
'Uns caras lá no hangar 31 me disseram para te procurar. Que talvez tu tivesse uns serviços, digamos, interessantes.'
Kenjiro havia feito Sigma pesquisar os registros de naves pousadas na estação. Queria especificamente nomes e identificações de naves e pilotos associados a The Foundation e, claro, seus respectivos números de hangar.
'Foi o Mark que te mandou?'
Com Sigma passando informações no comunicador, ficou fácil passar no teste - 'Não, cara. O Mark está no hangar 4. Quem me mandou foi o Tony Andrews, do 31.'
O homem sorri satisfeito com a resposta. Então lhe passa informações sobre alguns contratos de espionagem. Kenjiro não consegue conter um leve sorriso. O alvo é o mesmo assentamento que os imperiais querem espionar - 'Mas que sorte!' - ele pensa.
Ele deixa o local e vai até um restaurante fora da área comum, numa posição menos movimentada. Como sempre, senta no fundo, de frente para a porta de entrada. Enquanto olha o cardápio em um holograma acima da mesa, pega seu datapad de sempre - 'Sigma, encontre o histórico de tráfego de naves no assentamento Thirsty Pearl, quantidade delas e horarios. Envie para meu datapad.'
Faz o pedido da refeição e analisa as informações enviadas por Sigma - 'Joia, achei um horário.'
Enquanto come, observa uma jovem em outra mesa, conversando com os pais - 'Como minha princesa estará se saindo na academia?' - pega o datapad novamente e escreve uma mensagem para a filha, perguntando como ela está e pedindo novidades.
Termina de comer, pega suas coisas e retorna para o hotel. Decide dormir e descansar. Kenjiro viu que o melhor horário para tentar se aproximar do assentamento sem ser detectado é o final da tarde, início da noite. Neste horário parece haver um aumento no fluxo de naves. Ele calcula que será mais fácil misturar seu sinal ao de outras naves no radar. Ele supõe que estão todos com pressa para retornar a Millerport, bem como deve ser o horário da troca da equipe de monitoramento.
No dia seguinte ele deixa o hotel e vai direto para o hangar 27 inspecionar a recém comprada Sidewinder. Ele aproveita para ordenar a desinstalação de alguns módulos e a instalação de outros. Com o intuito de deixar a nave mais leve e fria, o gerador de escudo é trocado, armas e estantes de cargas são removidos, módulos principais são trocados por equivalentes da classe D e um hangar de SRV é instalado. As alterações levam todo o resto do dia para serem finalizadas e a nave fica pronta próximo do horário que ele planejou iniciar as missões.
'Bom, vamos ao último passo.' - ele diz para si mesmo, sentado no cockpit - 'Sigma, solicite alteração do registro da nave. Registre-a com o nome de Cobretti, identificação MAR-01.'
Após a confirmação da alteração do registro, ele inicia a nova jornada - 'Sigma, ative os motores da nave, ligue os escudos e prepare para decolagem.'
Após verificar que a IA deixou a nave pronta, ele inicia comunicação com o controle de voo - 'Controle, aqui é Cobretti, identificação Mike Alfa Romeo-01 iniciando decolagem.'
'Boa noite, Cobretti. Inicie vetor vertical até 100m e aguarde alguns minutos. Temos um tráfego bem intenso neste horário.'
Ele sorri, pois sua análise estava correta - 'Afirmativo, controle. Subindo a 100 metros e aguardando liberação.'
Vários minutos depois, recebe autorização para iniciar a saída da estação. Ele mantém velocidade em 80m/s e sai tranquilamente. Após afastar-se 10km, inicia o carregamento do FSD. Quando o aviso de carga completa aparece no painel, acelera a nave em 100% e em alguns segundos ela entra em supercruise.
Kenjiro abre o painel de navegação e define o destino na superfície do planeta logo à frente - 'Sigma, tome conta da nave. Vou vestir algo mais apropriado.' - levanta da cadeira e vai até um compartimento no fundo, à esquerda do cockpit. Dele tira um traje Maverick. Troca o traje ali mesmo, guardando o antigo onde este estava.
'Entrando no campo gravitacional de Kosmala Rewards' - ele ouve a voz de Sigma anunciar pouco antes da nave dar uma chacoalhada.
Vai até a sua cadeira, senta, ativa a fixação magnética do assento e pega os controles da nave - 'OK, Sigma, eu tomo conta dela agora.'
Propositalmente, ele erra o ângulo de entrada na atmosfera do planeta. Assim ele sai do supercruise e entra em planagem orbital a cerca de 500km do assentamento. Nenhum sensor poderia detectar sua presença nessa distância.
Após vários minutos voando o mais baixo possível e sem usar a pós-combustão, pois aumentaria a temperatura da nave e poderia denunciar sua posição a algum sensor, ele pousa com todo o cuidado. A nave está com os escudos desligados, o que ajuda a baixar a emissão de calor. Agora ele está a 10km do assentamento.
'Liberar SRV, Sigma.' - dá a ordem enquanto levanta do assento. Antes ele se certificou de que ainda há muitas naves chegando e saindo do seu destino. A confiança de que sua presença não foi detectada aumenta. Ele desce para a área de carga da nave e imediatamente o capacete do traje é ativado, já que o local foi despressurizado com a liberação do veículo terrestre. No visor do capacete ele chexa a gravidade: 0.37G. Dá um passo à frente e se deixa cair lentamente até o solo, aterrissando ao lado do veículo.
'Sigma, desligue nave e fica em stand-by. Posso precisar de ti.'
Ela confirma o recebimento da ordem e inicia o desligamento enquanto ele abre o cockpit do SRV e entra - 'Bom, vai ser um longo caminho.'
O trajeto é acidentado. Há muitas rochas no caminho e ele não pode arriscar danificar o veículo. A Sidewinder é uma nave pequena e não há espaço para um hangar com dois SRVs. Ele não tem uma reposição.
Após mais de 15 minutos ele pára o SRV atrás de uma grande rocha, a 300m do assentamento. No último 1km dirigiu com as luzes apagadas, guiando-se apenas pela visão noturna - 'Melhor deixar o "escaravelho" aqui para não chamar atenção.' - ele pensa. Desliga o SRV e desembarca.
A escuridão é profunda. O planeta não tem lua. Apenas a luz das estrelas e do assentamento podem ser vistas. Kenjiro avança o mais rápido que pode, tentando não ser notado.
O local é composto por construções baixas. O ponto mais alto é uma torre de comunicação. Ele pára, abaixado ao lado de um container velho e corroído. Fica vários minutos imóvel, observando a rotina dos guardas. Acredita ter encontrado um ponto cego, uma falha na segurança.
Não há guardas em cima dos prédios. Logo ele só precisa se preocupar com as sentinelas em solo. Essas estão vigiando os tanques de hidrogênio, plataformas onde as naves pousam, os locais de armazenamento de mercadorias e o que parece ser um tipo de centro de comando.
Ele se esgueira entre dos containers abandonados até ficar a 30m da torre de comunicação. Um guarda passa com a lanterna do traje ligada, mas no lado oposto ao dele, a uns 50m da torre. Ele aguarda, e quando a sentinela está de costas, afastando-se, vai abaixado até a torre. Então examina bem as proximidades. Como não vê ninguém, rapidamente pega o arc-cutter da mochila. Ativa a ferramenta e começa a cortar o painel de acesso. O arco de plasma corta o metal facilmente, porém gera uma luz que, nestas condições, poderia ser vista de longe. Ele corta aos poucos, parando para verificar se foi detectado ou se há alguém próximo.
Logo o painel é removido e colocado com cuidado no chão, para não fazer barulho. Ele acopla um dispositivo na placa eletrônica que ficou exposta e ativa o comunicador - 'Sigma, acorde.'
O traje não teria potência para transmitir até a nave nessa distância. Mas utilizando o SRV como potenciador de sinal, ele recebe a resposta.
'Comandante, eu não estava dormindo. Eu nem mesmo posso fazer isso.'
Ele controla uma risada - 'Ok, engraçadinha. Pode iniciar a conexão com a torre e a extração de dados.'
Alguns segundos depois, que para ele pareceu uma eternidade, ela avisa - 'Senhor, encontrei os dados desejados. As assinaturas conferem com aquelas informadas pelos contratantes.'
Em contratos de espionagem desse tipo, normalmente o que se consegue adquirir são dados criptografados. Então os contratantes informam hashes de assinatura a serem comparados com os hashes dos dados capturados. Quando esses hashes batem, sabe-se que foram encontrados os dados que se procurava, mesmo que no momento não se consiga saber exatamente o conteúdo deles.
Ele remove o dispositivo, pega uma pistola de cola e fixa a tampa do painel de volta no lugar - 'Melhor evitar que notem que alguém esteve aqui.'
Quando está indo em direção ao container mais próximo, de relance, pela visão periférica, vê um facho de luz movendo-se na sua direção. Instintivamente salta o mais alto que consegue. Lá do alto, mais de 5 m acima, vê a luz da lanterna de um guarda passar exatamente pelo caminho que ele ia fazer até o container. A luz se afasta enquanto ele pousa do outro lado do container - 'Ufa! Ele não me viu.'
Ele se esgueira de novo entre os containers e olha para cima - 'Droga! O fluxo de naves já está diminuindo.' - ele começa a correr na direção do SRV - 'Sigma, ligue o "escaravelho" e monitore o movimento de naves.'
Kenjiro mal entra no SRV, acelera a 50% enquanto faz uma curva fechada para a direita. Mal dá tempo para a trava magnética segurá-lo no assento - 'Dane-se, agora tenho que correr!' - ele liga os faróis e acelera ao máximo - 'Sigma, ligue a nave. Deixe-a pronta para decolar o mais rápido possível!'
'Sim, senhor. Reativando o reator e iniciando os sistemas de propulsão e navegação. Devo ativar os escudos, comandante? '
'Deixe para fazer isso quando eu estiver a 1km da nave. Cacete!' - Ele ativa os propulsores verticais do SRV e salta sobre uma rocha de 2m de altura. O impacto direto teria sido desastroso, mesmo com os escudos do veículo ativados. Só que não eles estão.
Ele pára embaixo da nave com uma derrapagem lateral. Faz um rápido ajuste e ordena - 'Abordar nave!' - Sigma se encarrega de puxar o SRV de volta para a nave. Ele desembarca do veículo e corre para a cabine sem esperar que o interior dela seja pressurizado. Pula no assento e inicia a decolagem. Os propulsores verticais rugem e fazem a nave tremer. Sigma recolhe o trem de pouso, ele acelera em 100% e ativa a pós-combustão, inclinando a nave em 70°. Sente a pressão de vários Gs quando a nave vai a 280m/s em poucos segundos.
No mesmo momento que seu sinal surge no radar do assentamento, uma Hauler passa acima dele iniciando a partida em direção a Millerport. Ele ajusta a velocidade da Sidewinder mantendo-se 30m abaixo da nave maior, voando na mesma direção. Sua presença não é notada pelo monitoramento.
Tão logo a nave se afasta o suficiente para se livrar do bloqueio de massa causado pelo planeta, Kenjiro ativa o FSD e salta para supercruise. Alguns minutos depois, já em espaço normal, ordena que Sigma assuma o controle e pouse a nave em Millerport.
Depois da nave estar segura no hangar, ele pega suas coisas e volta para o hotel. Toma um banho, veste-se e vai até a área social para jantar. No caminho verifica se algum dos contatos com quem falou no dia anterior está por ali, mas não os vê.
Enquanto janta no mesmo restaurante, tira o pequeno datapad de um bolso lateral da calça. Então pressiona o botão do comunicador em seu ouvido - 'Sigma, copie os dados que capturamos para meu datapad secundário.'
Após confirmar o recebimento dos dados, inicia uma conexão encriptada com cada um dos contatos que lhe deu as missões. O conteúdo das mensagens é idêntico: Dados adquiridos com sucesso. Aguardo o pagamento para entrega do solicitado.
Minutos mais tarde, quando já está terminando a refeição, recebe retorno de ambas as facções. Elas confirmam a transferência de créditos e solicitam os dados. Ele os envia e então verifica sua conta secundária - 'Ótimo, estou 2 milhões mais rico.' - pensa e sorri.
Sai do restaurante e vai até o hangar onde a Smokescreen está guardada, porém fazendo um longo trajeto, subindo e descendo de diversos elevadores. Ele não quer ser rastreado. A salvo, entra na nave e vai até a cabine. Ordena que Sigma abra o cofre e ali guarda o pequeno datapad.
'Comandante, o senhor tem uma chamada classificada como prioritária. É sua filha Aileen.'
'Complete a chamada e transmita no painel principal.' - ele senta em sua cadeira e vê o holograma da filha se formar à sua frente. Ela está assustada, chorando