Cap 11 - GRADUAÇÃO
30 Mar 2022Kenjiro Tanaka
29/10/3303Aliança
Sistema Asellus Primus
Ele viajou mais de 390ly até chegar aqui. Fazia muitos anos desde a última vez que esteve no sistema. Teria vindo antes se não fosse…
Hot Rod está pousada na região desmilitarizada da superfície de Asellus 2, o planeta onde fica a Academia da Federação de Pilotos. No perímetro da Academia apenas naves militares ou da própria instituição podem voar e pousar. Ele pega um transporte e vai encontrar a filha que não vê pessoalmente há quatro anos.
A gravidade pouco maior que 1G não chega a incomodá-lo. Já esteve em planetas com gravidade maior por bastante tempo e o corpo ainda aguenta manobras de vários G quando está em combate. O aperto que sente no peito tem outras causas. Algumas ele talvez até gostaria de esquecer.
Desembarca na estação próxima à Academia. A caminhada é curta, não mais que 200m. Apresenta sua identificação no portão de entrada. Seu nome está na lista de convidados dos graduandos. Um Cadete lhe mostra um mapa virtual, com a indicação de onde será a cerimônia. Kenjiro dá um sorriso de leve e uma piscada com o olho direito - ‘Guri, eu estive aqui antes de tu nasceres. Sei bem onde fica, mas obrigado assim mesmo’ - dá um leve tapa no ombro do estudante e segue o caminho até o centro de eventos.
Quando ele passa pelo jovem Cadete, esse não deixa de notar o emblema em seu ombro direito. Todo piloto, ou aqueles que querem ser um, conhecem os emblemas que simbolizam os ranks dos três principais ramos de pilotagem. Aquele era um piloto de combate nível Perigoso.
Ele deu sorte, chegou cedo, a tempo de escolher um bom lugar para sentar. Ao lado de algumas fileiras, enquanto analisava o local, ouve um assobio muito forte, familiar. Ele olha para a direita. Uns 20 metros o separam da jovem Cadete. Seus olhos brilham ao vê-la correr na sua direção.
‘Oi pai! Que bom que tu pode vir!’ - ela se aproxima para o abraçar. Um breve momento foi o que ele precisou para a olhar de cima abaixo e de volta nos olhos. Ela estava linda no uniforme da academia.
Os dois se abraçam forte por um longo momento - ‘Pena que eles não puderam vir’ - ela diz com lágrimas nos olhos.
‘Opa, princesa. Deixa pra chorar depois, senão vai molhar o uniforme.’ - ele passa os dedos no rosto dela para remover as lágrimas.
‘Vem, eu escolhi um lugar legal pra ti.’ - ela o puxa pela mão e o guia até perto das primeiras fileiras. Ali um assento estava reservado com uma placa que dizia “Cad. Tanaka” - ‘Bom, já tenho que ir. Não deve demorar pra formatura começar. Depois te conto em qual sistema vou começar a trabalhar.’
Enquanto ela começa a se afastar ele fala baixo ‘Huh, sabe de nada…’
Ela vira enquanto se afasta - ‘O que pai?’
Ele balança a cabeça e acena para que ela vá logo - ‘Não, nada.’
Após a cerimônia, que é muito bonita, mas nada comparada ao que ele já viu no Império, encontra a filha falando com alguns recrutadores. Alguns logotipos são bem familiares, outros nem tanto.
‘... e oferecemos bônus em alguns casos especiais…’ - dizia um homem baixo, barrigudo, visivelmente mais velho que ele.
‘Desculpem estragar as esperanças de vocês, pessoal, mas esta jovem piloto já tem um lugar garantido’ - fala chegando bem próximo da filha e apontando para o ombro esquerdo, onde podia ser visto o emblema do Imperador Arissa Lavigny-Duval.
Todos se afastam apressados. Ela não sabe dizer se foi por causa do símbolo no ombro esquerdo ou o da direita - ‘Eu não tinha notado essas novidades…’ - ela olha para os emblemas com espanto.
‘Pois é, temos muito o que conversar. Muita coisa aconteceu desde a última vez que falamos. E aconteceu bem rápido’ - ele a abraça novamente - ‘Parabéns, princesa! Estou muito orgulhoso.’
Eles caminham pelo centro de eventos e encontram alguns instrutores. Ela apresenta o pai, conta que ele se formou ali na academia. Alguns se interessam em saber como ele se juntou ao Império, como estão as relações com a Federação, se o Império tem muitos problemas com piratas. Depois de mais de uma hora de apresentações e conversas, ele decide que já é hora de partirem.
Kenjiro acompanha a filha até o alojamento, onde pegam as bagagens dela. Aileen se despede dos poucos colegas que encontra e então eles pegam um transporte até o hangar onde a nave dele está. No caminho ela pergunta quais são as novidades. Num tom de voz bem baixo ele diz para ela ter um pouco de paciência, pois ali não seria um bom local para ele a atualizar.
Quando estão a poucos minutos do hangar, ele pega o pequeno datapad do bolso da calça e ativa a comunicação - ‘Sigma, inicie os preparativos para partirmos.’
‘Pois não, comandante. Estará tudo pronto quando o Sr. chegar.’ - ela responde com a voz levemente sintetizada.
‘Ué, o senhor tem um andróide agora?’ - Aileen pergunta surpresa.
‘Não. Sigma é uma I.A. que estou desenvolvendo há algum tempo. Ela está instalada em todas as minhas naves…’
‘Naves? Plural?’ - a surpresa dela é ainda maior.
‘Pois é, muita coisa aconteceu.’ - responde e sinaliza que estão chegando na parada deles.
Saem do transporte e caminham por alguns minutos até o hangar. Quando ela achava que seu pai não podia surpreendê-la ainda mais, a porta do elevador de acesso se abre e ela vê Hot Rod pela primeira vez.
‘Puta que pariu! Sério? Uma Fer-De-Lance?’
Ele apenas sorri e ordena que Sigma libere o acesso à nave. Assim que entram - ‘Sigma, esta é minha filha, Aileen.’
‘Olá, comandante Aileen. Bem vinda à Hot Rod.’
Ela apenas olha em volta, olhos arregalados, boca aberta.
‘Bom, coloca tuas coisas no armário, veste o Remlock e já pode sentar.’ - ele aponta para o assento da esquerda, pois na FDL o do piloto fica à direita no cockpit - 'Quando estiver pronta, diz pra Sigma ajustar a rota pra casa e iniciar a decolagem.’ - ele sai pela porta.
Ele retorna alguns minutos depois, quando Sigma já está decolando a nave. Ele senta em seu lugar, ativa a trava magnética do assento e olha para a filha com um sorriso - ‘E aí, pronta?’ - e antes que a filha possa responder qualquer coisa - ‘Sigma, transfira os controles da Hot Rod para a Aileen’
‘O que?’ - ela fala bem alto, extremamente surpresa.
‘Ué, quero ver se a Academia da Federação de Pilotos ainda forma bons comandantes, ou se só serve para jogar um bando de carebears no mercado de trabalho.’
Com as mãos trêmulas ela segura a alavanca do acelerador e o manche. Respira fundo, com os olhos fechados, tentando lembrar tudo o que aprendeu nesses anos de Academia. Abre os olhos, olha rapidamente o HUD à sua frente, lê as informações e então empurra o acelerador todo para a frente. O ar foge dos seus pulmões, como se aquele instrutor obeso da cadeira de Técnicas de Comércio Espacial tivesse repentinamente sentado em seu peito.
‘Opa! Esqueci de avisar que a Hot Rod não é uma FDL comum. Ela está totalmente engenhada. Então com certeza se comporta bastante diferente das Sidewinders que eles deixavam vocês pilotarem na Academia.’ - fala e solta uma gargalhada..
Depois de alguns segundos ela recobra o fôlego, com a nave ainda em 100% de aceleração. Mexe no manche com movimentos muito leves, para sentir o poder de manobrabilidade da nave - ‘É realmente muito diferente das Sideys que a gente pilotava.’ - Puxa o manche para trás e para a esquerda, executando um meio loop com rolagem, ajusta para enquadrar o primeiro ponto de salto e tão logo o sinal do bloqueio de massa desliga no HUD, ativa o FSD.
Alguns segundos depois Sigma inicia a contagem regressiva para aquele que será o primeiro salto dela como uma piloto formada. O primeiro de muitos, como uma piloto do Império.