Cap 15 - JOHNY CAOLHO
26 Apr 2022Kenjiro Tanaka
3304Império
Sistema Tinigua
No dia seguinte Aileen fez contato com a equipe de resgate de Goodman Landing e descobriu que os sobreviventes da Farragut, após receberem os primeiros atendimentos, foram transferidos para Bradfield Orbital, a estação gigante do tipo Coriollis que fica a mais de 90 mil segundos luz da entrada do sistema. No dia que o senhor Josiah teria alta, Kenjiro foi até a estação e o esperou na saída do hospital.
‘Boa tarde. Meu nome é Kenjiro. O senhor é o Josiah, piloto que salvou várias pessoas daquela Farragut?’
Ele o olha desconfiado, mas Kenjiro já esperava esse tipo de reação. Abre uma parte do grande casaco cinza que estava vestindo, o suficiente para que o homem veja a insígnia do Império e o símbolo da Silver Hunter Order em seu peito. Parece ter funcionado.
‘Sim, sou eu mesmo.’ - o homem responde - ‘O senhor me desculpe, mas sabe como é… o seguro morreu de velho.’
‘Espero que o senhor continue sendo sempre muito cuidadoso.’
Ele esboça um sorriso e Kenjiro oferece para acompanhá-lo, mas ele diz que sua família está à sua espera, apontando para um grupo de pessoas que estava alguns passos adiante.
‘Me desculpe, mas… o senhor veio de tão longe para falar comigo? Ouvi dizer que a base de vocês fica lá em Tinigua B 5.’
‘O senhor está bem informado.’ - Kenjiro baixa o tom da voz e chega mais perto - ‘Eu vim lhe procurar por causa de uma moça que nós resgatamos de dentro da Farragut, pouco antes dela se destroçar.’
Ele arregala os olhos - ‘Não acredito! Vocês a salvaram? Ela está viva?’
Kenjiro conta que o caso dela é extremamente crítico. O homem consente com a cabeça e relembra a condição que ela estava quando escaparam da Farragut. O comandante informa que ela está sob os cuidados de uma das melhores equipes médicas do Império, mas pede que Josiah mantenha isso tudo em segredo.
Ele dá uma leve risada ‘hehe depois do que a gente aprontou com aquela nave, eu imagino que o pessoal do Delaine não esteja muito feliz. É por isso que pretendo ficar aqui por Bradfield. Acho que vai ser bem difícil eles conseguirem me pegarem de surpresa aqui.’
‘Posso lhe garantir que a Silver Hunter está com um patrulhamento muito forte no sistema.’
Então ele dá um leve tapa no ombro de Kenjiro, diz que já tem que ir, mas antes enfia a mão no bolso, depois estende o punho fechado - ‘Eu cuidei disso desde aquele dia. Não larguei por nada. Os médicos queriam tirar de mim, mas eu não deixei. Por favor, devolva pra ela.’
Ele abre a mão devagar e a dogtag escorrega para a do comandante. Ele rapidamente a guarda no bolso interno do casaco. Despede-se do velho piloto e dirije-se ao hangar, onde sua Cobra MK3 está aguardando. Ativa o comunicador - ‘Sigma, chego em uma hora. Vou a pé mesmo. Quero aproveitar a caminhada para pensar. Quando chegar, quero a Smokescreen já ligada e pronta para decolar.’
Os dias que se passaram desde que ele falou com o Josiah foram de pouco avanço. Com o número de identificação da dogtag da androide, fez uma busca na base de dados dos pilotos do Império. Que coisa confusa e misteriosa. Ela já foi humana mesmo, e o nome dela era Alessa Garric Harvre. Era cadete da Academia Imperial, filha do falecido Coronel Brad Garric Harvre. Foi vítima de um ataque terrorista durante uma instrução na academia; passou por diversas cirurgias até que se recuperou; foi designada para a INS-Esperança; foi dada como desaparecida após um pronunciamento da Arissa em Kamadhenu.
‘OK… será que a Kumo Crew matou a guria e a substituiu por uma androide? Pelo que vejo nas fotos elas são idênticas. Aí tem coisa…’ - ele pensa.
‘Sigma, revise as informações das cirurgias enquanto verifico uma coisa.’
Em uma gaveta pega a dogtag da Harvre, olha, reolha, vira de um lado pro outro. Resolve colocar no scanner eletrônico - ‘Hmmmm tem um circuito e um chip aqui dentro. Interessante. Mas não acho qualquer tipo de porta de conexão.’
‘Senhor, é estranho. Estou tendo dificuldade para coletar as informações completas sobre o histórico médico dela.’ - informa Sigma
‘Aí tem coisa. Bem… nunca achei que precisaria apelar para isso, mas vamos lá. Tem coisa nesta história. Sigma, ative o protocolo Sauron e me dê um terminal para acessarmos juntos esse sistema do império.’
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Sauron Protocol
Choose your destiny:
Encription [1]
Decription [2]
The One Ring [3]
3
ONE RING TO RULE THEM ALL
Cracking tools enabled. Remember, with great powers, come great responsibilities
Depois de um pouco de hacking, um tanto de força bruta e uma boa quantidade de engenharia social, Kenjiro e Sigma conseguem ir fundo no sistema do Império. Sim, invadiram áreas do sistema que não tínham acesso - ‘Nossa, tem muita coisa pra eu fuçar se quisesse.’ - mas ele mantém o foco e pega apenas informações relevantes ao caso da androide.
No final da “sessão”, que dura horas, Sigma apaga todo e qualquer rastro que poderia levar até eles. Kenjiro aproveita que o protocolo Sauron ainda está ativado e deixa Sigma descriptografando os documentos, áudios e vídeos que copiaram. Então vai dormir um pouco.
Acorda horas depois com Sigma avisando que o processo de descriptografia foi finalizado com sucesso - ‘Finalmente podemos trabalhar com arquivos íntegros.’ - ele pensa.
Ele descobre que a Cadete passou por mais de 20 cirurgias, pois após o atentado, a nave que ela e uma instrutora estavam caiu sobre a Academia. Ambas foram encontradas inconscientes, mas a cadete estava em muito pior estado. Sofreu várias lacerações, alguns membros foram amputados por destroços da nave ou do prédio da academia, que perfurou a fuselagem. Coisa muito feia.
São horas e horas de vídeo e áudio. Sigma o ajuda a agilizar o processo, analisando todos os dados e selecionando apenas aqueles que vão realmente ajudar a entender tudo.
Ela foi mantida viva por aparelhos enquanto tentavam de tudo para salvá-la. Nada estava dando certo. Entra na jogada um Almirante do Império que, segundo pesquisamos usando acessos obscuros, é de uma divisão de espionagem. Ele apresenta um cientista que já trabalhou pro Pranav Antal com uma tecnologia de ciborgues e androides. Além disso, o cara apresenta uma versão modificada do Coletor de Sonhos Havasupai, que no caso seria um coletor de memórias - ‘Hmmmm conceito interessante, onde foi que eu já vi isso?’ - ele sorri.
Eles utilizam esse novo coletor para clonar as memórias da cadete e inserí-las em um androide. Kenjiro não acha registros específicos, mas parece que a dogtag tem importância no projeto. Depois de confirmarem que a transferência de memória foi um sucesso, eles recebem ordem para desligar os aparelhos que a mantinham viva, pois não havia meios de a retirar do coma.
Ele vasculha os documentos do projeto e descobre todas as especificações técnicas da androide. Cada marca e modelo das peças utilizadas nesse projeto. Manda Sigma fazer uma busca na rede para descobrir onde tudo isso pode ser encontrado. Seria muito óbvio ir até um sistema controlado pelo Antal para adquirir as peças e, claro, alguém desconfiaria. Então concentram as buscas no mercado negro.
Com a lista de compras em mãos, ele deixa a Astrotrain sob os cuidados de Sigma. No hangar, olha suas naves, ponderando qual será mais útil. Desta vez viajará utilizando a Cliffjumper, uma Diamondback Explorer modificada. Assim consiguirá dar saltos maiores, perdendo menos tempo.
‘Sigma, trace a rota para o sistema Quince.’
Ela responde de imediato - ‘Comandante, o sistema Quince não fica próximo a nenhum dos sistemas que o senhor registrou para as “compras”’.
‘Eu sei disso. Mas vamos lá encontrar uma velha amiga. Ela será bem útil nesta nossa missão “underground”. Talvez tu goste dela.’ - ele sorri e pisca olhando para o HUD da nave
Espaço independente
Sistema Quince
Depois de uma longa viagem, mas não tão longa graças à Cliffjumper, pousam em Millerport, uma das duas estações Orbis do sistema Quince.
Kenjiro transfere uma cópia do Sigma para um nano drive e o esconde no bolso do casaco comprido. Está vestindo roupas comuns por baixo, tentando não chamar muita atenção, o que acaba não sendo difícil pois vê que há várias Diamondback Explorers com a pintura padrão pousadas nessa área da estação.
Anda por várias horas pela estação, pára pra comer alguma coisa. Está apenas matando tempo e tentando se misturar à população. Não está perdido, sabe muito bem onde ela está. Caminha despreocupadamente, ou pelo menos tenta dar essa impressão, e vai até o hangar mais no fundo da estação.
Como ele esperava, Johny Caolho está no mesmo canto sombrio desta área do hangar. Nunca falou com ele na época que trabalhou por estas bandas, mas sabe muito bem quem ele é e o que ele faz. Espera nunca ter chamado a atenção dele.
‘Estou precisando de uma nave pequena. Alguém me disse pra vir para esses lados e falar com um cara que estaria sentado exatamente aqui.’
‘Ih é?’ - Caolho fala com um ar desconfiado - ‘Bom, talvez cẽ tenha vindo ao lugar certo. Mas será que sou o cara certo?’
‘Pois é… me disseram que o cara certo conseguiria algo como uma Sidewinder em troca do que tenho aqui’ - abre a maleta que vinha carrgando e deixa-o ver os cristais de foco requintado. Qualquer ladrão/atravessador/mequetrefe que se preze brilharia os olhos ao ver os cristais. Bem, no caso do Johny, só um olho brilha, acompanhado de um grande sorriso.
‘Pois acho que sou a pessoa certa e posso conseguir exatamente o que cê tá procurando.’ - Caolho responde com um grande sorriso no rosto - ‘Há muitos meses um cara deixou uma Sidewinder aqui em Millerport. Naves que ficam muito tempo paradas no hangar são movidas para os andares inferiores. Tipo um arquivo morto, saca? Bem, digamos que conheço alguém, que conhece alguém e…. Bom, agora ela está comigo. Documentação toda certinha com a estação, claro.’
‘Vai servir. Dá teu jeito pra ela vir para o hangar superior e a maleta é tua.’
‘Trato feito.’ - ele coça a cabeça - ‘Mas… só tem um probleminha. Eu não consegui entrar na nave. Está trancada todo esse tempo.’ - e franze a testa com ar de chateado.
Kenjiro dá um sorriso de canto - ‘Bom, talvez eu também conheça alguém que conhece alguém…’
Johny Caolho é um pilantra muito conhecido no underworld de Millerport, mas um pilantra de palavra. Cerca de uma hora depois da conversa deles, Kenjiro vai até a plataforma que ele indicou e lá está a Sidewinder.
É uma nave pequena, design extremamente antigo, toda quadradona. Sua pintura é amarela com alguns detalhes escuros.
Como Caolho havia dito, a nave está trancada. Mas saber como abrí-la utilizando três chaves eletrônicas codificadas facilita bastante as coisa, não é?
Após entrar nela vai direto para a direita, abre um dos compartimentos superiores e pega um remlock já bem usado. Do bolso interno do casaco que acabou de pendurar no assento do piloto, tira o nanodrive e o insere abaixo do painel principal.
--Vector Sigma v. 2.2.5
...Início de scan...
Nome da nave = Bumblebee
Modelo = Sidewinder
Piloto = Kenjiro Tanaka
‘Senhor, por que não fui transferida para esta nave através da rede? E por que estamos em uma nave tão velha?’ - ela resmunga com sua voz sintetizada
‘Opa, alguém não gostou de viajar dentro de um nanodrive’ - ele ri - ‘Sigma, eu te apresento Bumblebee. Esta belezinha foi a primeira nave que pilotei após sair da Academia. Ela foi emprestada pela Federação de Pilotos por um tempo, mas assim que tive créditos suficientes, dei um jeito de comprá-la. Ah sim, estamos nela porque ela estava “esquecida” aqui em Quince. Ninguém no Império ou na Silver Hunter sabe da existência dela. Eu também sabia que após tê-la deixada “abandonada” todo esse tempo aqui em Millerport, ela seria roubada por algum pilantra como Johny Caolho, teria sua documentação alterada… Resumindo, é a nave perfeita para fazermos as compras no mercado negro sem levantar suspeitas.’ - ele se ajeita no assento do piloto.
‘Controle de Millerport, aqui é o comandante Charles Smith, iniciando decolagem da plataforma 19’ - ele fala segurando um riso.
‘Será uma longa viagem. Pegaremos peça por peça em diferentes sistemas e estações, mas deve valer a pena.’ - ele fala para si mesmo e para Sigma, enquanto manobra a Sidewinder velha de guerra.